domingo, junho 19

A comum diferança


Uma coisa que não foi imediata, mas que a vida me ensinou foi que as pessoas não mudam. É preciso aceitá-las da forma que elas são, caso contrário, vamos viver decepcionados e frustrados com uma gama de expectativas que provavelmente não virão a acontecer.

O cerne disso tudo está ligado à essência, nós nascemos com a capacidade de gerir alguns dos componentes da nossa personalidade, mas somos incapazes de transformar o que de fato nos compõe, o que nos é inerente, peculiar à nossa natureza.

Entendo - e é um ponto de vista sem qualquer propriedade cientifica - que as escolhas feitas na fase de formação da personalidade são decisivas para a nossa vida adulta, para os nossos gostos e prioridades. As exigências externas nos delimitam e muitas vezes nos colocam frente a decisões difíceis de serem tomadas, não por que não queremos ou não desejamos mudar, mas a verdade é que nos falta força para ir contra o nosso fluxo original, aquele que verdadeiramente nos compõe, embora, tantas vezes, nos incomode.

As relações são passivas dessas cobranças, a fim de sermos felizes, de estabelecermos a tão comentada e esperada reciprocidade, cobramos que o outro se aninhe a nossa vida e corresponda o nosso estilo, as nossas vontades, aos nossos delírios. No entanto, o processo que nos cabe é o adaptar-se. Vale tudo para ser feliz, vale se aliar ao forró “bacana”, embora, você goste mesmo é de rock metal, jazz ou blues.

O problema é que tudo isso só é mesmo válido quando não há um esgotamento de paciência, uma intolerância maior do que a nossa acomodação espontânea. Não é nada fácil gerir diferenças, mas é possível lhe dar com elas, ser flexível ao outro por sentimento e companhia. Saliento, é preciso estar distante da cara feia, da grosseria, do desdém, por mais difícil que seja, vale a pena se esforçar e permitir, mesmo que não consigamos mudar, algumas vezes, aprendemos a acrescentar, eliminar.

No amor, creio eu, que o maior mistério da atualidade é essa flexibilidade de gostos, de aceitar o outro da forma que ele é, sem se sujeitar apenas ao incomodo de ter alguém em certos momentos tão diferente de você, mesmo que em outros tantos, ela pareça ser a alma gêmea.

A aceitação precisa se aliar a coragem, não creio que seja um processo fácil de ser estabelecido, mas acredito que ele possa acontecer. Mudanças não existem, mas os seres são capazes de se aperfeiçoarem e se surpreenderem com os seus jeitos de respeitar e permitir viver a dois, caso contrário, estaremos fadados a solidão, ao incomodo de não termos ao menos tentado ser feliz ao avesso.

Se o seu grau de resistência lhe causar um incomodo abusivo, não entre no jogo do fazer apenas para agradar, se não existir uma permissão legitima, você estará fazendo sofrer não apenas você, mas a outra pessoa que se esforça para acreditar no que poderia ser diferente. É preciso coragem para abdicar e ser feliz, afinal, nesse vasto mundo há de existir uma parceria de compatibilidade, que nos cause muito mais amor e aceitação do que dor e desengano.




3 comentários:

  1. Oi, Luana.

    Você disse bem:
    "tudo isso só é mesmo válido quando não há um esgotamento de paciência, uma intolerância maior do que a nossa acomodação espontânea."
    A partir do momento em que nos sentimos tão incomodados com o que nõ gostamos no outro, a hora não seria de mudá-lo ou a nós mesmos. Mas mudar a gente. De corpo inteiro.

    Beijos mil!!!

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