Carta ao desconhecido
Meu Caro,
Gentileza não é apenas palavra de
verbete, é gesto. Não te ensinaram a pedir permissão quando se quer pegar ou
entrar em algo qualquer que seja? Não te levaram para algum lugar em que tivesse
ouvido um “com licença” antes de abrir a porta e, simplesmente, entrar?
Não concedi a você e a quem quer
que seja o direito de bater à minha porta, adentrar em minha vida sem que eu
tivesse dado a permissão. Você invadiu com a sua lógica através da bagunça que
é a vida para tirar as suas impressões superficiais e idôneas. Antes de mim, a
farsa vem de você.
A loucura, neste sentido, não é
de todo perdoada. Eu sou propriedade privada de mim mesma e não costumo abrir
espaço para quem não é ao menos chegado. Foi decisão minha não permitir que
fizessem berço esplendido de mim. Já tive hábitos com desconhecidos, agora não
construo pontes com quem não sabe ambientar o coração.
Até este espaço, tão aberto,
também não te pertence. É uma mania de achar que o centro da coisa gira em
torno do que nunca existiu. Eu apenas te reconheço da probabilidade. Do
conceito indireto de saber que a curiosidade sobre a minha vida gira em torno
da tua inveja, e só pode ser isto, diante de tanta sina em mim.
Se não fosse
ela, você não teria tanto interesse em escavacar a minha vida virtual. Por
sinal, nenhuma das minhas redes precisa ser real para existir. O imaginário é
teu, então, faça o favor de se virar com os seus julgamentos.
Centenas de fotos não podem dizer
o que uma pessoa é. Nem estas palavras, nem aquelas outras. Todos os meios que
te levam a mim são precipícios, um canto escuro que gera impressões descabidas
sobre quem você apenas deseja conhecer, mas, lembre-se: não conhece.
Chega desse papo de adjetivos.
Não quero pronomes, nem verbos de ligação vindos da tua ausência. Não existirá
chegadas.Eu nunca fiz questão de ter por perto quem apenas passou por mim, mas
nunca ficou. Repare no meu interesse, estanque e deserto. Nunca obtivesse de
mim sonoridade se quer, então, aqui ou ali, me deixe em paz.
A propósito enquanto você lê, uma
roda de conversa se inicia na sua consciência. É perseguição demais para um
interesse mínimo. A minha vida não é um seriado americano, por isto, não perca
seu tempo procurando tanto saber do que não lhe é cabível. O brilho ofusca e incomoda, deve ser por isto que nessa
condição que se colocasse és impulsionado a vir novamente
nesta página procurar o que dessa vez
você vai encontrar, palavras, enfim, direcionadas a você.
Vê se me esquece, segue teu rumo
e vira a esquerda, o meu caminho é outro, sem qualquer pegada que não seja as
que eu permiti por amor, identidade e nenhum sacrifício a estarem perto de mim.
Invada e assole a vida de quem é
igual a tua: vazia e descabida.
Você para mim é desconhecido, mas
eu suponho quem é você além do que você pensa.
Boa sorte.
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