Carta de amor (saudade);
Insistir comigo mesmo não vai
adiantar, o orgulho vaidoso não consegue suprir a falta. Clamo por ausência,
mas a presença ecoa fervorosa, não há sensação que amorne qualquer falta tua.
Que distância que nada, se fosse
só isto eu já estaria nos céus, além das nuvens, por entre os satélites para
sentir o teu abraço que me tira desse tempo frio que entristece a alma.
Queria poder estar aqui sozinha
comigo, nesse barco furado em que terminei pelo avesso, descontrolada de tanto
amor. Era pra ser e não foi, era pra estar e partiu, era pra ser paixão, mas
foi amor. Como me aliviar dessa sensação vazia? Desse colapso que me tira de
casa para não sentir a invasão do teu cheiro, se não passastes por aqui?
Devo estar louca, desequilibrada,
envenenada de saudade, da falta que a tua ligação pela manhã me trazia ao
primeiro bom dia, do meu costume em te ligar para saber onde estavas; se
almoçou; se vem me vê; de saber que estavas chegando à minha porta, sem, se
quer, escutar o barulho do carro.
Essa tua ausência embaralhou
minha rotina, levou as cores do meu cotidiano para um barranco bem fundo, em
que me atirar não me trará de volta a pintura dos teus olhos, nem a cor mais
preciosa que tinha o seu sorriso, e é por isto que me dizem tanto para
recomeçar.
É invasivo demais criar novos
hábitos depois de anos ao teu lado, deixar o caderninho dos sonhos na gaveta e
partir para as páginas em branco, quando, na verdade, tudo já estava planejado
e escrito por nós, pelas boas lembranças do nosso encontro, do calor da nossa
companhia que já era suficiente para mim, agora, já não mais para você.
Saudade é coisa daninha, um
instrumento de ponta afiada que lança o peito e laça a gente de memórias, estou
cuidando da minha retina, para enxergar melhor o fato, enxugar a ferida e, só
assim, fortificar o meu coração. Enquanto eu não aprender a olhar para outros
cantos e não te enxergar, vou continuar aqui, nesse hemisfério das lembranças,
em que a sensação do passado não me levará a lugar nenhum se eu não souber
recomeçar sozinha nesse meu presente.
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Palavras salvas.